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Modelo de Melhoria: como envolver times de enfermagem para uma assistência mais qualificada e segura

Por Roberta Cordeiro de Camargo Barp
Enfermeira, especialista em Melhoria pelo IHI.

Todos nós, em nível pessoal ou profissional, em algum momento da vida já tentamos fazer algo melhor. Todos nós já nos deparamos com mudanças. Mas como saber se a mudança que fizemos resultou em melhoria? Antes de mais nada, é fundamental entender que toda melhoria requer uma mudança, porém nem sempre as mudanças realizadas resultam em melhoria.

O Modelo de Melhoria é composto por um conjunto de três questões fundamentais que orientam todas as melhorias e direcionam para o ciclo de PDSA.

As três questões são:

  • O que estamos tentando realizar? Corresponde ao objetivo da iniciativa.
  • Como saberemos se a mudança é uma melhoria? Refere-se aos indicadores que serão utilizados para avaliar o impacto das mudanças. Devem-se utilizar gráficos de controle ou tendência que permitirão a análise dos dados ao longo do tempo.
  • Que mudanças podemos fazer que resultarão em melhoria? Diz respeito ao desenvolvimento das mudanças que serão testadas.

O ciclo de PDSA completa a estrutura das três perguntas para o Modelo de Melhoria. É utilizado para testar mudanças e acelerar a aquisição de conhecimento, transformar ideias em ação e conectar a ação com a aprendizagem. As quatro etapas do ciclo de PDSA consistem em:

  1. planejar os detalhes do teste e realizar predições sobre os resultados (Plan);
  2. realizar os testes e coletar os dados (Do);
  3. aprender a partir da comparação das predições com os resultados do teste (Study);
  4. tomar medidas com base em novos conhecimentos (Act).

Para ilustrar o ciclo de PDSA, podemos pensar na elevação da cabeceira do Bundle de prevenção de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. A equipe planejou um teste utilizando cartolina para mensurar elevação de cabeceira (Plan), definiu um leito e realizou o teste registrando o passo a passo da execução (Do). Na terceira etapa, avaliou qual foi o resultado do teste, comparou o que aconteceu com a predição e por fim resumiu o aprendizado (Study). Com base no que se aprendeu, decide-se o que se fará em um novo ciclo (Act). Nesse exemplo, a cartolina não foi um bom material, optou-se, então, pela utilização de placa de PVC com identificação de angulação, um novo teste foi planejado e um novo ciclo é iniciado.

Essas são ações simples que quando testadas trazem aprendizado para a equipe, mostram a melhor maneira de se obter sucesso nessa medida preventiva e atingir o resultado eficiente na prevenção dessa infecção relacionada à assistência. Geralmente, as sugestões ou ideias surgem de membros da equipe que, quando sensibilizados com a causa e entendendo os indicadores da sua unidade de trabalho, se mobilizam para fazer melhor. Atitudes como essas geram compromisso e senso de pertencimento.

Com base no que se aprende em qualquer ciclo, uma mudança na etapa 4 do PDSA pode ser adotada (implementar), abandonada, adaptada ou ampliada em escopo ou escala. Um princípio fundamental para testar uma mudança é testar em pequena escala e construir o conhecimento sequencialmente com múltiplos ciclos de teste de PDSA.

Na área da saúde, o Modelo de Melhoria pode ser utilizado como uma ferramenta na busca pela excelência, redução de erros, desperdícios e aumento da qualidade da assistência oferecida aos pacientes, o que gera também melhora do clima organizacional, pois permite o envolvimento de todos na execução dos projetos.

Em muitos cenários de prática clínica, processos de mudança são liderados por enfermeiros. Um dos motivos pelos quais esses profissionais encabeçam um projeto que visa uma melhoria é o fato de conhecerem as necessidades e os reais problemas dos serviços de saúde. As ações propostas para serem testadas são mudanças simples, na maioria das vezes pequenos ajustes nos processos de trabalho trazem a diferença, qualificam a assistência e promovem segurança aos pacientes. Nesse sentido, quanto mais estimuladas as equipes de linha de frente, mais ideias surgirão e novos testes poderão ser propostos.

Uma das maiores organizações de saúde, independente e sem fins lucrativos, o Institute for Healthcare Improvement (IHI) utiliza a ciência da melhoria para promover e sustentar melhores resultados de cuidado à saúde em todo o mundo. Muitas instituições brasileiras de excelência do setor saúde também têm utilizado essa estratégia para realizar mudanças.

No Brasil, um exemplo de projeto bem-sucedido utilizando o Modelo de Melhoria é o projeto Saúde em Nossas Mãos que salvou mais de 2.430 vidas desde agosto de 2017 até novembro de 2023. O projeto melhorou a segurança dos pacientes contra infecções relacionadas à assistência à saúde nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de 116 hospitais públicos e filantrópicos de todo País. Por meio da implementação das boas práticas nesses hospitais, foi possível gerar ao Sistema Único de Saúde (SUS), no período, uma economia de R$ 320 milhões.

Uma das formas de aprender mais sobre o modelo é no próprio site do IHI, através da plataforma Open School, é só fazer um cadastro rápido e simples e você terá acesso a diversos cursos. Além disso, existem os White Papers, que são documentos que compartilham os problemas para os quais o IHI está trabalhando, ideias e estruturas que estão desenvolvendo e testando para ajudar as organizações a fazerem melhorias.

Aprender sobre Modelo de Melhoria e executar um projeto baseado nesse modelo pode agregar ainda mais valor ao enfermeiro na medida em que promove aprendizado e valoriza cada iniciativa da prática profissional. Ainda, esse tipo de projeto desperta orgulho de todos os envolvidos ao reconhecerem que fizeram parte de uma grande construção. Quem trabalha com o Modelo de Melhoria consegue ver sentido em tudo o que faz.

Fontes:

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