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A importância da ciência de dados na coordenação do cuidado por enfermeiros

Por Vanessa Cardoso
Enfermeira analista de processos na Unimed VTRP. Mestre em Enfermagem pela UFCSPA. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Promoção à Saúde da Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC).


A efetiva concepção de um sistema de saúde requer a adesão a critérios de qualidade que englobem a segurança do paciente e a prestação de cuidados oportunos, centrados na pessoa, eficientes, eficazes e equitativos. Em um sistema pautado na Atenção Primária à Saúde (APS), esses critérios se manifestam através de um conjunto de ações que derivam de seus principais atributos, tais como acesso, longitudinalidade, integralidade e coordenação do cuidado.

A coordenação do cuidado representa um pilar fundamental nos sistemas de saúde, estabelecendo uma conexão interdependente entre os diversos pontos de atendimento e facilitando o acesso contínuo e oportuno aos serviços. Reconhecida como elemento essencial da APS, a eficácia da coordenação do cuidado depende da colaboração entre os distintos níveis de atendimento. Visando garantir a navegação segura dos pacientes no sistema, desde o encaminhamento inicial até a troca de informações entre os profissionais de saúde, evita encaminhamentos inadequados e falhas na comunicação que possam comprometer a qualidade da assistência. Trata-se de um desafio complexo que requer uma abordagem multidisciplinar e colaborativa, sendo a ciência de dados uma ferramenta essencial para aprimorar a coordenação do cuidado. Assim, este artigo explora a importância da ciência de dados nesse contexto, destacando como pode ser uma aliada valiosa para os enfermeiros.

Importante mencionar que são inúmeras as informações geradas pelos profissionais em todos os níveis de atendimentos nos serviços de saúde, grande parte delas geradas pela enfermagem na assistência direta aos pacientes. Em um contexto de grande volume de informações, a ciência de dados desempenha um papel crucial na melhoria da coordenação do cuidado.

Os cientistas de dados podem extrair informações valiosas dos bancos de dados gerados pelos profissionais de saúde, ajudando as organizações de saúde a tomar decisões baseadas em evidências e a resolver problemas complexos. Tais profissionais, por suas habilidades de matemática, estatística, programação, conhecimento de negócios e comunicação, podem desenvolver estratégias para analisar grandes volumes de dados e visualizá-los, bem como construir modelos usando linguagens de programação avançadas.

Nesse sentido, a colaboração entre cientistas de dados e enfermeiros é particularmente valiosa. Os enfermeiros exercem uma função essencial na identificação de problemas relacionados à coordenação do cuidado e na compreensão das necessidades dos pacientes. Estes profissionais comunicam-se diretamente com os pacientes e seus familiares, garantindo que suas demandas sejam atendidas de forma eficaz.

Os enfermeiros são protagonistas na implementação das melhorias identificadas, garantindo que as mudanças sejam incorporadas na prática clínica e que os pacientes recebam um cuidado adequado e coordenado. Ao trabalhar em conjunto, enfermeiros e cientistas de dados podem combinar seus conhecimentos para aprimorar a análise de dados e a construção de modelos que direcionam a coordenação do cuidado.

Para exemplificar as diferentes oportunidades para construção de modelos, menciona-se a coordenação do cuidado entre os serviços de APS e os serviços de apoio diagnóstico. Um exemplo ilustrativo dessa coordenação é o cuidado ao paciente diabético, para o qual é necessária a realização regular de exames, como a medição da hemoglobina glicada semestralmente, fundamental para controle da doença. Nesse cenário, a utilização de um painel de coordenação do cuidado com dados em tempo real se torna necessária. Esse painel pode fornecer informações imediatas sobre pacientes que realizam ou não os exames necessários, permitindo que enfermeiros fundamentem suas decisões em dados. Por exemplo, se o painel indicar que o paciente não realizou o exame de hemoglobina glicada dentro do prazo, o enfermeiro pode agir prontamente, agendando o exame, entrando em contato com o paciente para reforçar a importância da conformidade com os cuidados de acompanhamento e adaptando as condutas de enfermagem para garantir um controle eficaz do diabetes junto àquele paciente, prevenindo complicações futuras.

Um exemplo adicional, que demonstra a importância da coordenação do cuidado, ocorre durante a transição de um paciente de um nível de atenção para outro. Considere o cenário em que um paciente recebe alta hospitalar. Nesse momento, é possível desenvolver um modelo baseado em dados que capture informações relevantes da internação hospitalar. Esse modelo pode ser usado para gerar um plano de cuidado estruturado e automatizado, garantindo a continuidade do cuidado em serviços de APS. Estes serviços adotam um modelo de plano de cuidados que incorpora rotinas e metas a serem alcançadas, priorizando a decisão clínica compartilhada com o paciente. Esses planos de cuidados representam uma estrutura organizada da atenção à saúde, envolvendo diversos profissionais que participam do tratamento de uma condição de saúde específica. O objetivo é facilitar a prestação adequada do cuidado, promovendo a continuidade da assistência e aprimorando sua qualidade. 

Os protocolos padronizados estabelecidos abrangem todas as etapas do cuidado oferecido aos beneficiários da unidade de saúde. Importante ressaltar que, mesmo com a padronização dos planos de cuidados, eles devem ser adaptados às necessidades individuais de cada paciente, garantindo que ele receba assistência segura, completa e adequada às suas necessidades de saúde. Essa abordagem personalizada é essencial para assegurar a eficácia da coordenação do cuidado. 

Em resumo, a ciência de dados tem cada vez mais ganhado relevância quando se pensa em melhoria da coordenação do cuidado. A colaboração entre enfermeiros e cientistas de dados pode levar a ganhos significativos na qualidade dos serviços de saúde, beneficiando diretamente os pacientes. A personalização e a integração de dados possibilitadas pelos cientistas são essenciais para enfrentar os desafios complexos da coordenação do cuidado, tornando-a mais eficiente e segura.

A importância da ciência de dados como uma ferramenta valiosa para aprimorar a coordenação do cuidado por enfermeiros, considerando-se a conjunção de habilidades dos profissionais mencionados, se dá na medida em que serviços de saúde passam a oferecer cuidados diretos e indiretos mais eficazes e personalizados, gerando melhores resultados em saúde. Portanto, é urgente introduzir esta temática na formação de enfermeiros no Brasil para que, ao adentrarem no mercado de trabalho, seja no setor público ou privado na área da saúde, estejam minimamente letrados em dados. A colaboração entre essas duas disciplinas promete avanços significativos no campo da saúde e na qualidade do cuidado prestado à população. A colaboração entre essas duas disciplinas promete avanços significativos no campo da saúde e na qualidade do cuidado prestado à população.



Fontes:

  • Lacerda RST, Almeida PF. Coordenação do cuidado: uma análise por meio da experiência de médicos da Atenção Primária à Saúde. Interface – Comunicação, Saúde, Educação 2023: 27: e220665. 
  • RESOLUÇÃO NORMATIVA – RN Nº 506, DE 30 DE MARÇO DE 2022, institui o Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde de Operadoras de Planos Privados de Assistência à Saúde e Revoga as Resoluções Normativas nº 440, de 13 de dezembro de 2018, nº 450, de 06 de março de 2020, e nº 463, de 23 de novembro de 2020. 
  • Vázquez ML, Miranda-Mendizabal A, Eguiguren P, Mogollón-Pérez AS, Ferreira-de-Medeiros-Mendes M, López-Vázquez J, et al. Evaluating the effectiveness of care coordination interventions designed and implemented through a participatory action research process: Lessons learned from a quasi-experimental study in public healthcare networks in Latin America. PLoS One. 2022;17(1):e0261604. 
  • Vargas I, Eguiguren P, Mogollón-Pérez AS, Bertolotto F, Samico I, López J, De Paepe P, Vázquez ML. Understanding the factors influencing the implementation of participatory interventions to improve care coordination. An analytical framework based on an evaluation in Latin America. Health Policy Plan. 2020;35(8):962-972. 

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